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AS ROUPAS ENVELHECEM COMO VINHO 

OU COMO LEITE?

Foto: Thais Mesquita 

 

 

 

 

 

 

 

 

Que pergunta pertinente e provocadora para os tempos contemporâneos, hein! Ela foi feita por Lindebergue Fernandes, estilista cearense que usa a passarela, sobretudo a do DFB Festival, maior semana de moda autoral da América Latina, para despejar questionamentos e reflexões que alugam triplex na cabeça de quem se propõe a esmiuçar suas roupas, histórias e conceitos. 

 

A pergunta imediatamente nos lembrou de um tema que assusta: lixo têxtil. Imagine que o Brasil produz cerca de 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. É muito descarte! 

 

Vamos a um panorama rápido. A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Segundo o relatório Fashion on Climate, do Global Fashion Agenda com a McKinsey and Company, as empresas que confeccionam roupas e acessórios emitem cerca de 2,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano. Esse montante equivale a 4% das emissões globais. Só no Brasil, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são produzidas 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. Desse total, 80% é destinado a lixões e aterros sanitários. Entender como fazer a sua parte para não piorar a engrenagem e como cobrar as marcas é essencial para começar uma transformação sustentável – mesmo que pequena.

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A coleção de Lindebergue Fernandes apresentada recentemente no DFB Festival, teve como tema “Prazo de Validade”, e como ele mirou, atingiu outras esferas, especialmente a da própria existência. “A coleção teve a intenção de fazer as pessoas se perguntarem sobre o que teria mais valor hoje. Durar para sempre ou obedecer ao andar do tempo? 

 

Então, as roupas, como as pessoas, mais cedo ou mais tarde partirão, serão esquecidas. 

 

Mas a emoção de um desfile, de vestir algo que te desperta certo tipo de sensação, isso transcende o tempo de cada um e de certa forma atinge a imortalidade e ultrapassa o tal prazo de validade”, revela o estilista, em entrevista especial para ‘A Flecha’.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: Thais Mesquita

Embora os números lá de cima possam assustar os desavisados, ainda existe um horizonte otimista. Pesquisa recente divulgou que já existem mais de 100 mil brechós no Brasil, inclusive, para além das roupas, abarcando móveis e outros segmentos. Uma notícia que traz certo alívio, levando em consideração que a economia circular é um dos caminhos mais interessantes e efetivos para a diminuição do descarte de resíduos. Na moda, a indústria ainda tem forte impacto como agente transformador. “Ela desafia normas tradicionais, promove diversidade e inclusão, e utiliza sustentabilidade como pilar central, contribuindo para uma conscientização global sobre questões ambientais e sociais”, comenta Lindebergue, que apresentou o desfile utilizando materiais normalmente considerados inutilizáveis, como o resíduo de etiquetas de outra marca que iriam para descarte.

 

O desfile teve de tudo, até roupa feita com saco plástico e tricô de papel reaproveitado, um verdadeiro ode ao reciclado e principalmente, ao reciclável. “Meu trabalho sempre esteve ligado à lógica da sustentabilidade; seja no reuso de insumos , seja no uso de coisas que seriam descartadas. Esse ano utilizamos resíduos de etiquetas que seriam para descarte; tem um fio de lurex e são lindas! Quando ressignificadas viraram quase uma pelugem luxuosa. Esse tema sempre está presente na minha trajetória e já, inclusive, foi tema de vários desfiles. O lixo é um luxo”, provoca Lili, como é chamado pelos mais íntimos.

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Foto: Thais Mesquita

Lindebergue é muito mais que estilista, ele é artista. E a arte tem o potencial de questionar normas, desafiar o status quo, inspirar mudanças sociais e, quando politicamente engajada, pode destacar injustiças, amplificar vozes marginalizadas e mobilizar grandes ações. E ele vem questionando normas desde 2002, quando se apresentou pela primeira vez no DFB Festival, e ano após ano, continuou gerando expectativa pelos admiradores da moda que produz reflexão social. “O que mais me motiva, caso dos meus desfiles, mais que vestir pessoas é usar esse holofote como plataforma para lançar ideias e provações. É onde a arte e também a espiritualidade se apoderam e tomam conta dos processos. Cada desfile tem como missão causar alguma inquietação em quem assiste; seja tocar na alma ou uma ferida, revisitar uma emoção esquecida, uma saudade… por isso a cada coleção o que está em foco nem é tanto a roupa, mas o espetáculo, a busca pela liberação de emoções”, confidencia. 


Na passarela da vida ou na passarela moda, com suas histórias que misturam arte, reflexão e espiritualidade, Lindebergue se conecta com seu ‘eu’ mais íntimo para criar identificação com todos, e é fundamental ter coragem para isso.

 

“O que me interessa é atingir o coração das pessoas. O que me inspira é despertar no outro o que emociona em mim mesmo. Não parece muito, eu sei. Mas é longe de ser pouco.”
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Foto: Thais Mesquita

COMO FAZER SUA PARTE DE MANEIRA SIMPLES?
 

É preciso ter em mente que, quanto mais tempo prolongarmos a vida das peças de roupas, melhor para o planeta. A venda em brechós ou a doação das roupas e dos acessórios são ótimas opções, mas, caso o item já não sirva mais para seguir no ciclo, a ideia é dar outra utilidade a ele.

 

Sugerimos ativar a criatividade e usar os tecidos para fazer enchimento de almofada, por exemplo, ou até paninho para limpar a casa. O portal Uma Vida Sem Lixo leva a filosofia sustentável para várias vertentes da vida, mas também tem dicas práticas sobre como ter um guarda roupa mais ecológico.

 

É importante também ficar atento aos dias e horários da coleta seletiva para dar o descarte correto não apenas aos resíduos têxteis, mas aos de outra natureza.